SEQUÊNCIA DIDÁTICA - O gênero diário e a escrevivência a partir da obra “Quarto de despejo” (Carolina Maria de Jesus)
SEQUÊNCIA DIDÁTICA
Autoria: Lívia Ramos Diniz
Plano geral da aula
Público alvo: 2º ano (Ensino Médio EJA)
Número de aulas: uma aula de 60 minutos
Recursos e materiais didáticos necessários: sala de aula ou espaço que permita realizar uma roda de conversa com os alunos; exemplar(es) da obra “Quarto de Despejo”, de Carolina Maria de Jesus, ou impressão de alguns trechos da obra (se necessário); material para a escrita dos alunos (papel, lápis/caneta).
Tema
Tema geral: o gênero diário e a Escrevivência a partir da obra “Quarto de despejo” (Carolina Maria de Jesus).
Temas específicos: literatura afro-brasileira e o gênero diário na obra “Quarto de despejo” (Carolina Maria de Jesus); o conceito de Escrevivência, de Conceição Evaristo; a pobreza, miséria, fome e violência no contexto da produção da obra de Carolina Maria de Jesus em paralelo com a atualidade; relato pessoal (prática do texto oral) e diário pessoal (prática do texto escrito).
Justificativa
Trabalhar com o gênero diário em sala de aula é uma forma de praticar uma escrita mais livre e de poder conhecer a trajetória de vida dos alunos, o que ocasiona uma maior proximidade entre eles e o professor. A partir desse gênero, um diálogo com a literatura pode ser estabelecido, abrindo a possibilidade para práticas pedagógicas pertinentes aos eixos de ensino de português, abordados a seguir. Nessa atividade, temos a aplicabilidade das orientações da BNCC em face dos seguintes eixos, a saber: leitura (obra literária), a produção escrita (diário pessoal), a oralidade (relato pessoal); análise linguística (gênero textual). Além disso, essa atividade justifica-se pela possibilidade de trabalhar com temas caros à nossa sociedade, o que favorece e estimula o desenvolvimento de um debate crítico sobre a temática; temas específicos dispostos no item 2. "Tema".
Objetivos: geral e específicos
Objetivo geral: desenvolver com os alunos o texto oral e escrito do gênero diário em face da aplicabilidade da Escrevivência.
Objetivos específicos:
Aprender/reconhecer o gênero diário, seja pelo conhecimento prévio ou a partir da obra “Quarto de despejo” (Carolina Maria de Jesus).
Interagir com os demais colegas a partir da leitura de trechos da obra; problematizando questões caras à nossa sociedade presente na obra (pobreza, fome, políticas públicas, etc.).
Estimular o pensamento crítico em face dessas problemáticas sociais;
Conhecer a autora Conceição Evaristo e o termo por ela cunhado, a Escrevivência.
Produzir um breve texto do gênero diário aplicando o conceito de Escrevivência.
Compartilhar oralmente suas histórias, respeitando o tempo de escuta e de fala.
Habilidades e competências da BNCC mobilizadas
Habilidades:
(EM13LP45) Compartilhar sentidos construídos na leitura/escuta de textos literários, percebendo diferenças e eventuais tensões entre as formas pessoais e as coletivas de apreensão desses textos, para exercitar o diálogo cultural e aguçar a perspectiva crítica. Competência: 6.
(EM13LP48) Perceber as peculiaridades estruturais e estilísticas de diferentes gêneros literários (a apreensão pessoal do cotidiano nas crônicas, a manifestação livre e subjetiva do eu lírico diante do mundo nos poemas, a múltipla perspectiva da vida humana e social dos romances, a dimensão política e social de textos da literatura marginal e da periferia etc.) para experimentar os diferentes ângulos de apreensão do indivíduo e do mundo pela literatura. Competências: 1, 6.
(EM13LP51) Analisar obras significativas da literatura brasileira e da literatura de outros países e povos, em especial a portuguesa, a indígena, a africana e a latino-americana, com base em ferramentas da crítica literária (estrutura da composição, estilo, aspectos discursivos), considerando o contexto de produção (visões de mundo, diálogos com outros textos, inserções em movimentos estéticos e culturais etc.) e o modo como elas dialogam com o presente. Competências: 1, 2.
(EM13LP53) Criar obras autorais, em diferentes gêneros e mídias – mediante seleção e apropriação de recursos textuais e expressivos do repertório artístico –, e/ou produções derivadas (paródias, estilizações, fanfics, fanclipes etc.), como forma de dialogar crítica e/ou subjetivamente com o texto literário. Competências: 1, 3.
Competências específicas de linguagens e suas tecnologias para o ensino médio:
Competência 1: Compreender o funcionamento das diferentes linguagens e práticas (artísticas, corporais e verbais) e mobilizar esses conhecimentos na recepção e produção de discursos nos diferentes campos de atuação social e nas diversas mídias, para ampliar as formas de participação social, o entendimento e as possibilidades de explicação e interpretação crítica da realidade e para continuar aprendendo.
Competência 2: Compreender os processos identitários, conflitos e relações de poder que permeiam as práticas sociais de linguagem, respeitar as diversidades, a pluralidade de ideias e posições e atuar socialmente com base em princípios e valores assentados na democracia, na igualdade e nos Direitos Humanos, exercitando a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, e combatendo preconceitos de qualquer natureza.
Competência 3: Utilizar diferentes linguagens (artísticas, corporais e verbais) para exercer, com autonomia e colaboração, protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva, de forma crítica, criativa, ética e solidária, defendendo pontos de vista que respeitem o outro e promovam os Direitos Humanos, a consciência socioambiental e o consumo responsável, em âmbito local, regional e global.
Competência 6: Apreciar esteticamente as mais diversas produções artísticas e culturais, considerando suas características locais, regionais e globais, e mobilizar seus conhecimentos sobre as linguagens artísticas para dar significado e (re)construir produções autorais individuais e coletivas, de maneira crítica e criativa, com respeito à diversidade de saberes, identidades e culturas.
Desenvolvimento da atividade
Parte 1 (5 minutos):
Introduzir o gênero diário para a classe, levantando perguntas sobre o conhecimento prévio que eles [alunos] possuem acerca dessa produção.
Parte 2 (10 minutos):
Separar a turma em duplas ou trios e compartilhar a obra-física “Quarto de despejo”, ou trechos impressos da obra, pedindo que eles [os alunos] deem uma olhada rápida na estrutura do texto e se eles identificam o gênero textual presente no livro.
Pedir para que os alunos leiam trechos da obra. Esses trechos podem ser predefinidos ou escolhidos de acordo com a data de aniversário deles próprios ou aleatoriamente. Caso não haja exemplares suficientes da obra, trechos do livro devem ser disponibilizados para a dupla ou trio.
Propor que entre eles se discutam impressões sobre a obra a partir da breve leitura que fizeram dos trechos.
Parte 3 (5 minutos):
Apresentar a autora Conceição Evaristo e o conceito de Escrevivência em diálogo com o gênero diário e a escrita realizada por Carolina Maria de Jesus, indicando que serão questões pertinentes à atividade que será realizada a seguir.
Parte 4 (10 minutos):
Produzir um texto do tipo diário aplicando o conceito de Escrevivência. É importante destacar que o gênero diário pressupõe uma escrita livre e despreocupada com os aspectos ortográficos e que eles devem escrever um texto pequeno e sem “preocupações” quanto à norma padrão da língua, assim, o tempo da atividade será otimizado.
Para tanto, haverá uma pergunta norteadora: “O que eu gostaria que meu/minha professor(a) soubesse?”. A pergunta está presente no livro “Uma outra educação é possível”, da professora Luana Tolentino.
A produção de texto deve ser escrita em um papel à parte e lida para os demais colegas posteriormente.
Parte 5 (20 minutos):
Abrir uma roda de conversa para que os alunos possam compartilhar oralmente o texto produzido para os demais colegas, que devem promover uma escuta atenta e respeitosa. Será um momento de compartilhar vivências, lembranças, etc.
Parte 6 (5 minutos):
Feedback dos alunos a respeito da atividade que acabaram de desempenhar.
Referências:
BRASIL, Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018.
JESUS, Carolina Maria de. Quarto de despejo: diário de uma favelada. São Paulo: Ática, 2004.
EVARISTO, Maria Conceição. A Escrevivência e seus subtextos. In: Escrevivência: a escrita de nós: reflexões sobre a obra de Conceição Evaristo. Organização: Constância Lima Duarte, Isabella Rosado Nunes. Rio de Janeiro: Mina Comunicação e Arte, 2020. p. 26-47.
TOLENTINO, Luana. Outra educação é possível: feminismo, antirracismo e inclusão em sala de aula. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2018.
Comentários
Postar um comentário